Barbara Hutton, a mulher que adorava desportistas e carros de sport

A sociedade da América do Norte e particularmente dos Estados Unidos da América deu origem, ao longo de décadas, a um número interminável de personagens icónicas, homens e mulheres mais ou menos famosos que se movimentaram nos ambientes mais endinheirados e sofisticados da época convivendo e criando uma teia de relações que geralmente os enredavam em ambientes tão distintos como a cultura, o desporto, os negócios, o music hall, a política ou a arte.
Muitas, foram mulheres e uma das mais faladas foi sem dúvida Barbara Hutton. Exemplo acabado de flapper dos anos vinte, era neta do milionário fundador dos armazéns de utilidades baratas Woolworth, espécie de cadeia de lojas dos trezentos, e que atualmente se denomina Foot Locker and Inc. Dela nasceu uma das personagens mais miticas do automobilismo norte americano dos anos 50, o seu filho Lance Reventlow. 
Nascida em 1912, um ano antes de uma outra famosa figura feminina da sociedade europeia e americana desse tempo, Panonica Rothschild, que por sua vez se envolveu na área do Music hall e do jazz com nomes como Thelonious Monk ou Charlie Parker, também Barbara teve um percurso singular numa sucessão eclética de casamentos e divórcios que a tornou uma das mulheres mais comentadas do seu tempo.
Após o suicídio de sua mãe, Edna Woolworth, herdeira da fortuna familiar, a gestão e crescimento dos negócios da família foi desenvolvido em seu nome pelo pai que, no entanto, a manteve afastada da herança dos avós até aos 21 anos.
Ao contrário de outras figuras glamorosas, os caminhos de Barbara Hutton foram dar, através de diferentes voltas da vida, ao desporto automóvel do pós segunda guerra mundial. Vem, por isso, a propósito esta curta investigação que procura encontrar essas interseções, coincidências ou não, que surgiram desde o seu baile de debutante, realizado em Nova Iorque no Ritz Carlton Hotel em 21 de Dezembro de 1930.
Foi exatamente neste baile que iniciou a sua ligação amorosa ao playboy americano Phil Plant, de seu nome, que foi o seu primeiro namorado e ao mesmo tempo um apaixonado por automóveis desportivos como era muito habitual nesta época.
Em 1933, com 21 anos, toma posse da sua herança até então administrada pelo pai e torna-se nessa altura uma das três mulheres mais ricas do mundo atraindo sobre si a atenção dos jornais do mundo, da alta sociedade americana e europeia e dos caçadores de fortunas.
Apaixonou-se no mesmo ano por um aristocrata georgiano, Alexis Mdivani, de quem se divorciou apenas dois anos mais tarde, em maio de 1935, três meses antes deste sofrer um acidente mortal em Espanha, perto de Figueras, ao volante do seu Rolls Royce quando viajava ao lado de uma outra figura proeminente da sociedade europeia, a baronesa Maud Von Thyssen que sobreviveu ao desastre.
Já nesta altura casada com o conde dinamarquês Kurt Reventlow dele nasceria o seu primeiro e único filho Lance Reventlow em Fevereiro de 1936 depois de um parto crítico. Lance, sabemos nós, seria o construtor dos carros de sport e monolugares Scarab de Fórmula 1 que se aventuraram no panorama das pistas europeias em finais dos anos 50.
Mas a sua vida intima continuou agitada. Divorciou-se do conde Reventlow em 1938, envolvida em escândalos familiares e consumo de drogas casando-se em 1942 com Cary Grant, pessoa com quem o seu único filho, Lance, se relacionou muito bem.
Infelizmente a vida artística muito agitada e sempre rodeada de estrelas femininas de Cary Grant acabou novamente em divórcio em 1945, altura em que Barbara terá iniciado um périplo pela Europa o que a levou a novo casamento exótico, em 1947, com um príncipe russo, Igor Troubetzkoy. Este, terá sido o primeiro piloto a conduzir um Ferrari em corrida, em Mónaco. Apaixonado pelas corridas e carros, Troubetzkoy terá deixado forte influência em Lance Reventlow que acompanhava ainda a sua mãe nesta montanha russa de casamentos e divórcios. Casado com Barbara até 1951, nesse período Troubetzkoy tornou-se proprietário de uma equipa, em parceria com o conde italiano Bruno Sterzi, a Scuderia Inter, constituída por três Ferrari 166, tendo mesmo vencido com Clemente Biondetti, o Targa Florio de 1948. Foi precisamente o nome da sua equipa que viria a inspirar a designação dada pela Ferrari ao seu modelo 166 Inter. Sterzi abandonou as corridas após um acidente em Albi, nesse mesmo ano e a aventura da Scuderia Inter terminou também após desentendimento com o conde Sterzi mas Lance, nesta altura já adolescente com 12 anos terá sido fortemente influenciado pela vida desportiva e a carreira automobilística do seu padrasto.
Barbara Hutton continuava a sofrer os problemas de consumos que afetavam a sua saúde e novamente o divórcio com o príncipe russo aconteceu, em 1951, neste casamento que durou mais dois anos do que os três matrimónios anteriores.
Em Dezembro de 1953, Barbara Hutton casou-se com mais uma figura notável da high society da época, o dominicano Porfírio Rubirosa antigo diplomata, desportista e homem de muitas habilidades e charme seguro junto das senhoras, também ele ligado ao desporto automóvel. Rubirosa chegou a alinhar em corridas de importância como Sebring e Le Mans em 1954 continuando irregularmente até 1958 a conduzir carros de sport Ferrari. Este foi o casamento mais curto de Barbara, o suficiente apenas para esta se aperceber de que Porfírio continuava atraído por Zsa Zsa Gabor a sua namorada anterior a Barbara, mas suficiente para esta  premiar o dominicano com enormes quantidades de roupa elegante, um bombardeiro B25 e 3,5 milhões de dólares de compensação no momento do divórcio, 53 dias depois do casamento. Porfírio, acabou por falecer em 1960, vítima de acidente de viação ocorrido no bosque de Bolonha em Paris ao volante de um carro de desporto Ferrari.
O matrimónio seguinte de Barbara, desta vez com um velho amigo seu e também personagem da aristocracia mas desta vez alemão, o barão Gottfried Von Cramm durou entre 1955 e 1959 acabando com mais uma desilusão depois de o encontrar um dia na cama com o seu namorado. Também este, viria a falecer em consequência de acidente de automóvel no Cairo, anos mais tarde. 
Lance Reventlow, seu único filho, era nesta altura jovem adulto e iniciava desde 1955 uma carreira no desporto automóvel alinhando em várias importantes provas nos EUA e na Europa ao mesmo tempo que se introduzia no ambiente hollywoodesco da costa oeste tornando-se próximo de figuras como James Dean. Diz-se, que terá sido  uma das últimas pessoas com quem o ator conversou minutos antes do seu acidente mortal. Alinhando em carros de sport Mercedes, Cooper e Maserati iniciou a partir de 1957 a construção de carros de sport, empreendimento que abandonou em 1964 vendendo os carros construidos pela sua equipa a John Mecom e dedicando-se em seguida a negócios imobiliários. 
O último casamento de Barbara aconteceu em 1964 altura em que o filho Lance saía de um divórcio litigioso com Jill St John, atriz de cinema.
Novamente Barbara caíu numa armadilha de baú montada por dois irmãos vietnamitas que se insinuaram junto dela vindo a consumar-se o seu sexto divórcio com Raymond Doan, aliás Raymond Doan Vinh an Champassak, em 1969, depois deste lhe extorquir um titulo nobiliárquico comprado no Laos e mais 2 milhões de dólares como compensação.
Ingressando de novo no consumo de drogas, devido a diversos desentendimentos entre os quais as relações tensas com seu filho Lance, os últimos anos da sua vida foram passados em equilíbrio instável entre o vício e a doença principalmente após a morte de Lance num desastre de aviação em julho de 1972.
Faleceu em Los Angeles em 11 de maio de 1979 com 66 anos de idade em estado de quase penúria.
Entre os seus bens leiloados nos últimos anos contam-se um Ferrari 365 GTC de 1969, demonstrando a sua atração de sempre pelos automóveis rápidos como tinha tido sempre também por aristocratas europeus e jóias de alto valor.

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