domingo, 4 de novembro de 2012

Reportagem do jornal Motor: as 24 de Le Mans 1973

24 Heures du Mans: Matra a confirmação - 1973

Revista Motor nº 13 - 15 de junho de 1973

24 Heures du Mans                 Matra: a confirmação

Jornalista: Luc Augier
Fotos de José Teixeira



O arranque do mundial de sport-protótipos de 1973 foi atípico. 
Ao contrário de anos anteriores, nas rondas americanas da resistência, 24 Horas de Daytona e 12 Horas de Sebring, das quais só a primeira prova contava para o Campeonato do Mundo de Construtores,  foi o Porsche Brumos Carrera RSR de Peter Gregg e Hurley Haywood (acompanhados na segunda prova por Dave Helmick), o vencedor. Esta última prova apenas contava para o Troféu Triplo da Resistência composto pelas duas provas de resistência americanas e pelas 24 horas de Le Mans. 
Só a partir de Março de 1973, nas 6 Horas de Vallelunga, as equipas e marcas europeias candidatas ao título nos carros de sport,  Ferrari, Matra, Mirage e Porsche começaram a alinhar regularmente nas provas do campeonato. Em jogo estava o prestígio, pois qualquer delas apresentava-se com palmarés e tradição no campeonato. A Ferrari desejava repetir o domínio demonstrado em 1972 quando os ágeis 312 P tinham dominado as provas do mundial, à exceção das 24 Horas de Le Mans, onde não haviam alinhado. A Matra, vencedora finalmente, em 1972, da prova francesa, procurava confirmar essa vitória e demonstrar que o seu modelo, o 670 B, além de resistente era tão rápido como os Ferrari, dominadores das provas mais curtas. A Mirage, representante da experiência e saber acumulado da equipa de John Wyer, cuja primeira vitória em Le Mans acontecera em 1959 com o Aston Martin DBR1 de Carroll Shelby e Roy Salvadori, procurava reeditar a gesta épica dos GT 40 e as façanhas inesquecíveis dos anos de 1968 e 1969. Finalmente a Porsche surgia como outsider,  apenas candidato de segunda linha ao título,  dado que o Carrera RSR da Martini Racing só em condições especiais de traçado, como no Targa Florio, tinha possibilidades reais de vitória. 
Às duas vitórias da Matra em Vallelunga e Dijon, a Ferrari respondeu com duas vitórias também em Monza e no Nurburgring, intercaladas pelas surpresas que foram a vitória da Porsche na Sicilia e do Mirage-Gulf em Spa, corrida marcada por golpes de teatro mas também pela prestação vitoriosa, na classe de protótipos de 2 litros, do Lola BIP dos portugueses Carlos Santos e Santos Mendonça que concluíram a prova no 6º lugar da geral, logo atrás do "super" Porsche Carrera RSR de Gijs Van Lennep e Herbert Muller. 

Chegava-se, então, à prova de Le Mans no dia 9 e 10 de junho de 1973. O mundo ocidental gozava ingenuamente os últimos meses de prosperidade antes da guerra de Yom Kippur e dos duros efeitos  da primeira crise petrolífera, que  ditaria o fim dos trinta gloriosos anos de crescimento da economia mundial. As tropas americanas retiravam aliviadas das terras da Indochina, divididas entre o ímpeto irresistível dos exércitos norte vietnamitas, animados pelos acordos de Paris, e a desfavorável opinião pública interna norte americana.
Disputou-se a prova Mancelle, nos dias 9 e 10 de junho desse anocorrida que era para mim, sem dúvida, na época, a mais esperada do ano, aquela que me faria ficar acordado durante a noite, à espreita dos curtos flashes da Rádio Renascença, que de hora a hora iam informando os mais fanáticos adeptos sobre o andamento da prova, já que, na altura, a RTP, era imprevisível e inesperada nas suas opções de programação do desporto automóvel.

O artigo que aqui se reproduz, é como se diz mais acima, a transcrição da reportagem publicada na 6ª feira seguinte, dia 15 de junho, no número 13 da revista Motor, reportagem conduzida por Luc Augier e com fotografias de José Teixeira, a páginas 24 a 37 da revista, numa das peças de jornalismo mais interessantes que até hoje consegui ler em publicações nacionais.
Porque é um relato jornalístico de grande interesse para todos os amantes das corridas de resistência e revela um envolvimento profundo, de quem escreve com o objeto da sua escrita, considero que não é justo manter escondido e inanimado o relato desta interessante corrida. Revela-se assim aos amantes do automobilismo de competição esta interessante narrativa que merece fazer parte do património do jornalismo e da literatura desportiva nacional, mesmo que escrita, na época, por um jornalista francês.

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